segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Olavo Bilac


A Avó

A avó, que tem oitenta anos, Está tão fraca e velhinha! . . . Teve tantos desenganos! Ficou branquinha, branquinha, Com os desgostos humanos. Hoje, na sua cadeira, Repousa, pálida e fria, Depois de tanta canseira: E cochila todo o dia, E cochila a noite inteira. Às vezes, porém, o bando Dos netos invade a sala . . . Entram rindo e papagueando: Este briga, aquele fala, Aquele dança, pulando . . . A velha acorda sorrindo, E a alegria a transfigura; Seu rosto fica mais lindo, Vendo tanta travessura, E tanto barulho ouvindo. Chama os netos adorados, Beija-os, e, tremulamente, Passa os dedos engelhados, Lentamente, lentamente, Por seus cabelos, doirados. Fica mais moça, e palpita, E recupera a memória, Quando um dos netinhos grita: "Ó vovó! conte uma história! Conte uma história bonita!" Então, com frases pausadas, Conta historias de quimeras, Em que há palácios de fadas, E feiticeiras, e feras, E princesas encantadas . . . E os netinhos estremecem, Os contos acompanhando, E as travessuras esquecem, — Até que, a fronte inclinando Sobre o seu colo, adormecem . . .

 

 
 
 
 
 
Olavo Bilac
A Boneca

Deixando a bola e a peteca, Com que inda há pouco brincavam, Por causa de uma boneca, Duas meninas brigavam. Dizia a primeira: "É minha!" — "É minha!" a outra gritava; E nenhuma se continha, Nem a boneca largava. Quem mais sofria (coitada!) Era a boneca. Já tinha Toda a roupa estraçalhada, E amarrotada a carinha. Tanto puxaram por ela, Que a pobre rasgou-se ao meio, Perdendo a estopa amarela Que lhe formava o recheio. E, ao fim de tanta fadiga, Voltando à bola e à peteca, Ambas, por causa da briga, Ficaram sem a boneca . . .

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
 
Olavo Bilac
O Tempo

Sou o Tempo que passa, que passa, Sem princípio, sem fim, sem medida! Vou levando a Ventura e a Desgraça, Vou levando as vaidades da Vida! A correr, de segundo em segundo, Vou formando os minutos que correm . . . Formo as horas que passam no mundo, Formo os anos que nascem e morrem. Ninguém pode evitar os meus danos . . . Vou correndo sereno e constante: Desse modo, de cem em cem anos Formo um século, e passo adiante. Trabalhai, porque a vida é pequena, E não há para o Tempo demoras! Não gasteis os minutos sem pena! Não façais pouco caso das horas!

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
 
 
 
 
Cleonice Rainho
Infância

Sou pequeno e penso em coisas grandes: pomares e mais pomares, jardins de flores e flores e pelas montanhas e vales grama verdinha e bosques, com milhões de árvores e asas de passarinhos. Rios e mares de peixes — aquários largos e livres — ar dos campos e praias, a manhã trazendo o dia com o sol da esperança e a noite de sonhos lindos, nuvens calmas, lua e astros, minhas mãos pegando estrelas neste céu de doce infância. E pelas estradas claras meu cavalinho veloz no galopar mais feliz: — eu e ele sorrindo, levando nosso cristal para os meninos do mundo.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
 
 
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário